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Matéria publicada em 21/11/2022 no Valor Econômico

Poucas semanas depois de consumar a aquisição da startup Stella e entrar em geração distribuída de energia solar, a Ultragaz, distribuidora de gás liquefeito de petróleo (GLP) do grupo Ultra, fez novo movimento estratégico para se consolidar como empresa de energia com portfólio diversificado. Por R$ 165 milhões, a empresa acertou a compra da Neogás, líder em distribuição de gás natural comprimido (GNC) no país, de olho na transição energética e no potencial do mercado de biometano.

Fundada há 22 anos, a Neogás foi pioneira na distribuição de GNC no Brasil e opera seis bases próprias de compressão, instaladas em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Paraná e no Rio Grande do Sul, com capacidade produtiva estimada em 100 milhões de metros cúbicos por ano, mesmo volume produzido em 2021.

A distribuidora tem ainda uma frota de 149 caminhões (semirreboque), uma carteira de clientes complementar à da Ultragaz, com grandes consumidores industriais sobretudo no interior do país, e abastece a 50 postos de combustível, além de prestar serviços de logística a distribuidoras de gás natural.

“O principal ponto [com a aquisição] é destravar o mercado de biometano, que tem um potencial enorme no país”, disse ao Valor o presidente da Ultragaz, Tabajara Bertelli Costa. Hoje, conforme o executivo, a produção doméstica do gás corresponde a apenas 3% do potencial.

Assim como na aquisição da startup de geração distribuída, a estratégia com a Neogás é aproveitar a força da marca Ultragaz e sua capilaridade comercial — são mais de 58 mil empresas e 11 milhões de famílias atendidas em todo o Brasil — para oferecer novos produtos e serviços aos clientes.

A ampliação de acesso ao gás natural e ao biometano deve beneficiar sobretudo indústrias que estão mais distantes dos gasodutos e redes de distribuição. Ao mesmo tempo, ao conectar produtores de biometano — que estão nos aterros ou perto de usinas sucroalcooleiras — e clientes finais, a expectativa da Ultragaz é acelerar o desenvolvimento desse setor.

“A geração distribuída já existe e dever ser bastante relevante nos próximos anos. Agora, a visão é desenvolver a cadeia de produção do biometano”, explicou Bertelli. O plano da Ultragaz, conforme o executivo, não é se tomar produtora do gás, embora possa haver alguma incursão dessa natureza para conhecer melhor as tecnologias ou fomentar a cadeia de valor.

A intenção, frisou o executivo, não é ser um grande produtor de biometano. É preciso conhecer as tecnologias e entender melhor o mercado, eventualmente incentivando a produção para garantir que o produto chegue a mercado com um preço adequado. O foco, porém, continua na última milha. “A ideia é fazer o mesmo que foi feito com o GLP”, disse.

Embora hoje a operação da Neogás seja concentrada no Sul e no Sudeste, a ambição é ampliar o fornecimento para outras regiões brasileiras. A Ultragaz tem conversas avançadas com clientes que podem resultar na instalação de estações de compressão, que pela lógica do negócio devem estar perto do mercado, em novas localidades e, consequentemente, em novos polos de produção de biometano. “A Ultragaz leva a expertise logística”, ressaltou o executivo.

Enquanto a Stella deve permanecer como subsidiária da Ultragaz, o plano para a Neogás é incorporá-la mais à frente. De partida, a área comercial já será integrada, de acordo com o executivo. O fechamento da operação ainda depende de determinadas condições precedentes, incluindo aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Segundo Bertelli, há por parte dos clientes demanda crescente por diferentes tipos de energia, em particular aqueles que atendem aos compromissos de sustentabilidade assumidos pelas empresas. Outro fator que deve impulsionar o mercado e a própria transição energética é a preocupação com a segurança de suprimento.

A Ultragaz ainda não consegue mensurar as receitas adicionais com a mais recente aquisição. Contudo, ressalta o presidente da empresa, há diversas oportunidades a serem aproveitadas. “Tem muita coisa acontecendo em energia renovável, mas estamos olhando onde temos uma operação diferenciada. A visão é acelerar o processo de transição energética e, dessa forma, vamos construindo potencialmente uma nova Ultragaz”, acrescentou.

Dentro de casa, a empresa do grupo Ultra já vinha estudando um GLP renovável, obtido a partir de a partir de matérias-primas como etanol, biodiesel e resíduos químicos. O principal desafio, segundo Bertelli, é chegar a um produto comercialmente competitivo — o GLP de origem fóssil pode ser transportado em botijão. Em parceria com uma unidade credenciada EMBRAPII, o ISI Biossintéticos e Fibras do Senai CETIQTI no Rio, produziu em 2021 a primeira chama de BioGLP no país. A próxima etapa será atestar a viabilidade comercial.

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